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Como foi? Metamorfias – Processos experimentais em gravura

São Paulo, 22 de novembro de 2015.

 

A oficina Metamorfias – Processo Experimentais em gravura teve como eixo a prática e a experiência de um ateliê associada ao pensamento da mudança das imagens a partir de seu meio de reprodução: como as diversas técnicas influenciam o processo da fatura?

 

Exploramos a técnica da monotipia como produtora de imagens: técnica essa que possibilita uma criação fluida e fugaz de imagens cuja tiragem caracteriza-se por ser pequena –  quase limitada.

 

A técnica da monotipia como hoje a conhecemos originou-se no século XVII com o pintor e gravurista genovês Giovanni Benedetto Castiglione (1616 - † 1670).

 

 

A monotipia (tipo único: mono + typos = imagem singular) caracteriza-se por ser um processo de gravação de imagens gestual e muito próximo ao desenho e, de certa forma, à dança.

 

O desenho é o fragmento do movimento que o atravessa.

 

Denomina-se por monotipia uma imagem resultante de uma placa entintada cuja tiragem diminuta e heteromórfica, isto é, pertencente a uma mesma família produz resultados com características diferentes entre si.

 

L’Uomo orientale. Giovanni Castiglione. 1648.

 

A monotipia é uma imagem impressa que se torna uma prova única, dessa maneira, é muito improvável obter-se uma segunda cópia similar à primeira impressão.

 

De certa forma a monotipia situa-se entre a pintura, o desenho e a gravura, abraçando as áreas gráficas como um todo. Aproxima-se do gesto do desenho e da pintura, da mancha de tinta, do traço, da linha; ao mesmo tempo possui características próprias da gravura, como a inversão da imagem.

 

L’Uomo volto a sinistra con un fiocco sulla fronte. Giovanni Castiglione.
1648

 

As capas produzidas pelo designer e artista gráfico Hélio de Almeida e encomendadas para o último lançamento das obras de Franz Kafka para a Companhia das Letras são exemplos icônicos de um trabalho que associa o projeto gráfico do livro com seu conteúdo orgânico, narrativo.

 

A monotipia não aparece por acaso como técnica elegida para a obra de um autor cujas inconstâncias e impermanências quase-fantásticas se rarefazem e modificam com tanta fluidez e naturalidade.

 

        

 

As capas da coleção da Companhia seguem todas o mesmo padrão de A Metamorfose: criações baseadas sobre desenhos de Amílcar de Castro. De toda maneira não é possível associar de imediato o estilo do desenhista, ou mesmo do artista gráfico, com Kafka.

 

Sem título.
Carvão e acrílica sobre tela.
1999

 

Amílcar de Castro, artista mineiro, é um dos representantes do neoconcretismo e explora formas puramente abstratas. De certo modo, há algo de comum entre as criações do escritor, do artista-plástico e do designer, promovendo tal sentido de aproximação na capa da obra.

 

É possível arriscar uma interpretação da abstração de Amílcar vinculada ao cenário da narrativa. Seria possível tomá-la como a figuração duma janela lacrada com uma tábua - sem uma possível redução da riqueza potencial de sentidos do desenho.

 

Sem título.
Corte e dobra sobre chapa de aço
1998

 

Alguns processos de contigüidade visual da imagem levam-nos a ver uma ruptura, assim como em grande parte de suas esculturas.

 

 

Em todo caso, a associação da ilustração das capas das edições com alguma alusão à narrativa kafkiana é um exercício de desprendimento simbólico e um desafio às capacidades interpretativas da práxis entre arte e técnica: téchni.

 

Charles Walker
1848 - 1925

 

Lou Borghetti
1960

 

Pablo Picasso
1881

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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