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São Paulo, Abril, Maio e Junho de 2015.
Quais (e[hi])stórias a rua nos conta?
Antes de falarmos sobre o conteúdo abordado na oficina, não podemos deixar de falar do fenômeno da intervenção no espaço da cidade. Essa, como marco de convivência, como rito e mito de um coletivo – a pólis como espaço-social permite ao habitante influenciar-se sobre ela, questioná-la, ratificá-la e, ainda mais, alterá-la: mudanças que partem da esfera da reflexão, do questionamento, da militância política, da publicidade, da vontade à toa...Nesse meandro, iniciamos explorando a história da intervenção urbana a partir dos exemplos de escrita-urbana presentes nas cidades antigas: Pompéia e Roma configuram grandes exemplos, senão os maiores, sobre esse fenômeno que inicialmente se baseava pelo protesto político e pela busca de marcar-se na urbe, sentir-se pertencente a ela.
O grafitti e a arte possuem origens distintas e, portanto, têm características semânticas e práticas próprias avante à forma como enxergamos esses termos que designam tantas manifestações presentes no dia-a-dia de nossas andanças citadinas.
Abordamos questões relacionadas à idéia do grafitti e sua legalidade relacionando-o aos sistemas de poder vigentes e como sua prática enfrenta aspectos das relações institucionais e culturais que permeiam nossa maneira de enxergar a cidade e, conseqüentemente, a política que nela desenvolvemos. A intervenção nem sempre pode caracterizar-se como arte e, a arte, nem sempre pode caracterizar-se como intervenção.Exploramos o intercâmbio e a conexão com o fenômeno do grafitti com o movimento hip-hop e sua relação direta com a ocupação do espaço público, da rua, pelo povo que nela buscava se divertir, socializar, ocupar, enfim: intervir.
A partir daí exploramos inúmeras referências sobre como o processo da escrita-urbana invadiu a cultura ianque, europeia e latino-americana, conectando o universo dos artistas que realizavam trabalhos dentro e fora dos espaços institucionais, estabelecendo um diálogo potente entre o universo da rua e do museu – da galeria.
Sem-título (Jesus) Jean-Michel Basquiat (1981)
Basqiuiat e Grafitti
A pichação é também outra forma de intervenção que abordamos de maneira a identificá-la como uma manifestação única e tão latente na cidade de São Paulo. Sua história e formação também advêm diretamente do protesto político, mas vai para além, traça relações com a permanência do indivíduo num espaço que lhe é caro ao pertencimento. Observamos como a origem de grande parte das letras desenvolvidas na pichação paulista são altamente influenciadas pelos tipos góticos aplicados às capas dos álbuns de música punk, hardcore e metal presentes nos anos oitenta e que, por sua vez, baseiam-se nas letras etruscas e germânicas, conhecidas como runas e, ou, futhark.A arte de rua, pensando-se numa terminologia mais adequada a tais manifestações, não só atinge hoje em dia o que chamamos de espaço urbano, pois mesmo as áreas rurais já são hoje, urbanizadas – o habitante daí convive e se comunica continuamente com a “grande cidade”, logo não trava somente com o meio rural e, sim, com esse entremeio, com esse traço-cisão de permanência urbana.
É também importante destacarmos outros artistas que utilizam-se do espaço urbano a partir de outras técnicas como o estêncil, a colagem, a azulejaria e o desenho efêmero – elaborado com materiais não-permanentes.
Space Invader
BLU BLU em Zaragoza
Shepard Fairey - Mike Giant
O mais incrível é o fato de que a intervenção não necessariamente deve residir no espaço da cidade para realizar contestações – essa é capaz de invadir espaços institucionalizados que utilizam da imagem da arte pública com o intuito de promoções publicitárias.
Um destes exemplos é o trabalho de Banksy em museus: sua ação resume-se na afixação de obras não-convencionais e não-pertencentes aos acervos nas galerias expositivas jogando com as relações de poder institucionalizado.
Banksy in Wall Art
Realizamos, assim, discussões que perpassaram os universos da arte de rua e da intervenção urbana através da exploração de outras linguagens artísticas que flertam com a modificação do espaço-comum das pessoas, incitando-as à crítica e ao pensamento reflexivo de como podemos construir nossas cidades.
Um excelente exemplo dessa ação são as intervenções que alguns atuantes urbanos desenvolvem a partir de temáticas relacionadas ao urbanismo-feito-à-mão, à prática da autogestão construtiva que altera o espaço urbano sem dialogar, necessariamente, com o poder administrativo formal nele vigente.
Comboio - Favela do Moinho
Com isso verificamos a iminência dos processos de gentrificação que, cada vez mais, avassalam as grandes e pequenas cidades no mundo: ações de substituição da memória baseados na boa-convivência daqueles que acreditam que promovem melhorias urbanas por inserirem públicos e serviços ausentes às áreas carentes, embora com isso, somente substituam a realidade destes espaços ao invés de, realmente, incentivar a tecnologia da convivência, da sociabilidade.
Casas feitas à mão – Swoon
Encerramos o curso discutindo um pouco sobre como se dão os processos curatoriais frente à arte de rua, já que, as próprias obras não existem antes das exposições, e, sim, nelas são elaboradas.
Discutimos as possibilidades de estabelecer contato com artistas, instituições culturais, galerias e museus que albergam tais projetos e, também, o papel do curador como um agitador, um provocador de tensões entre os espaços destinados à exposição destes trabalhos e a realização dos mesmos de forma coletiva e, ou, individual.Aproveitamos o encerramento para realizarmos uma atividade prática, na qual, os participantes foram convidados a intervirem no espaço da Casa das Rosas utilizando tapumes e diferentes materiais – exploramos as técnicas, o tempo de realização das ações e diferentes materiais como: spray, rolinho e tinta látex, estêncil, caligrafia realizada com canetões e squizzers.Fica aqui uma palhinha para vocês verem o resultado após as aulas ministradas de 11 de abril a 9 de maio:
Àqueles que desejam se aprofundar no tema, deixamos aqui algumas referências vídeo-bibliográficas:
Filmes:
1º A Letra e a Cidade
2º Pixo
3º Cidade Cinza
4º Alex Vallauri - Festa na Casa da Rainha do Frango Assado - 18ª Bienal de Arte de São Paulo
5º Wild Style
6º A Caverna dos Sonhos Esquecidos - Werner Herzog
Livros:
1º LASSALA, Gustavo. Pichação não é Pixação. São Paulo: Altamira, 2010
2º RAMOS, Célia Maria Antonacci. Grafite Pichação & CIA. São Paulo: Annablume, 1994.
3º MARTINS, Bruno Guimarães. Tipografia Popular. São Paulo: Annablume, 2007.
4º MCCORMICK, Carlo. Trespass - A History of Uncommissioned Urban Art. New York: Taschen, 2010
5º LEVITT, Caroline. From the Walls of Factories to the Poetry of the Street: Inscriptions and Graffiti in the Work of Apollinaire and the Surrealists. Artigo disponível em: http://www.surrealismcentre.ac.uk/papersofsurrealism/journal9/acrobat_files/Caroline%20Levitt%207.9.11.pdf
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