MURAL LITERÁRIO
CIDADE DOS SIRIS
Está escuro, mas não há estrelas no céu.
Apesar de acordada, as perguntas que lhe perseguiam nos sonhos, ainda
estavam com ela...as perguntas sobre a criação, sobre como tudo surgiu. Saiu
de sua cabana, onde vivia com a família, andou até a beira do mar...
Rapidamente, a madrugada dá espaço para a aurora reinar.
Ela cuidadosamente retira os sapatos e caminha na areia. A areia é fofa
e macia. Imagine um pé de cada vez... a areia massageando e fazendo
cócegas na sola do pé. A menina se senta próximo a água límpida, espumante
e fresca, que ao sentir perde-se entre as ondas, perde-se nas marés, perde-se
entre as conchas, que contam histórias de como surgiram, de onde já visitaram
e para quem elas já deram abrigo. Porém, só quem tem a audição mais pura e
atenta, poderá ouvir essas histórias...
A brisa que lhe faz carinho e mexe seu cabelo, que também carrega
memórias de viajantes e aventureiros... As gaivotas e suas melodias que, de
certa forma, anunciam o dia e trazem a tardezinha e somem à noite.
E, neste momento a menina se dá conta que é a única na costa da
praia, a única que escuta o cantar das ondas, que sente o cheiro único dos
arrecifes e da areia com a água e aquela sensação única que lhe foi dada.
Está meio nublado, mas, de repente, entre as nuvens se abre uma
fenda, que mais se assemelha a uma porta de onde um forte raio de sol surge
no horizonte, fazendo encontro com a água cristalina do mar. Com isso, abre-
se um tipo de “tapete”, que parece ser feito de lindas e cintilantes pedrinhas de
diamantes ou então tecidas dos tecidos mais finos e brilhantes já vistos,
provocando um efeito único na menina. A sensação era tão plena, era tão pura,
era tão misteriosa e mágica, que a única tristeza era de sua família não estar
vendo aquilo ao seu lado.
O tapete era tão lindo e unia o horizonte a praia. A menina ficou
apaixonada com um desejo enorme de atravessá-lo, porém sentiu no seu
coração que ainda não havia chegado sua hora.
Contudo, para sua surpresa começou a perceber grãozinhos de areia
voando pelo ar e logo viu inúmeras bolinhas pretas que, na verdade, eram
olhinhos pipocando ao seu redor...
Eram siris!
Os mais corajosos saiam de buracos na areia, e os outros só ficavam
observando com metade do corpo para dentro do buraco e a outra metade para
fora.
Entretanto, todos tinham uma semelhança, todos olhavam para a
mesma direção: para o raio de sol e para o tapete mágico, sem darem muita
atenção e medo à menina...
Todos queriam admirar e atravessar o tapete...
E em meio a centenas de siris, ela não tinha mais as suas perguntas
sobre a criação, pois foram respondidas.
Ela se viu e percebeu que estava na cidade dos siris... Uma cidade que
quase ninguém repara... que é secreta e mágica... Onde ficam alguns segredos
da vida... Para escutar histórias e desvendar mistérios ... E quem sabe, um dia,
você esteja lá para lhes fazer uma visita e possa compreender a linguagem da
criação?
Apesar de ser uma simples cidadela, uma simples cidade, podemos
dizer que é um reino com seus mistérios e poderes mágicos ...
Você sabe me responder o que tem dentro daqueles pequenos buracos?
Eu acho que cada leitor deste conto saberá uma resposta e descobrirá o
segredo mais valioso da cidade dos siris.
Eu também espero que você possa encontrar a rodovia certa, a avenida
certa, a costa certa, a praia certa para, enfim, achar a cidadela.
Dedico esta obra a uma guerreira forte e sábia, que um dia entrou nessa
cidade e me contou seus mistérios e poderes mágicos.
Ana Clara Lourenço de Paula Ferreira,13 anos / Pseudônimo : Ferreira de Paula